O impulso por comer quando bate aquela ansiedade ou tristeza nasce de uma tentativa do nosso cérebro de voltar ao equilíbrio neuroquímico, que fica instável quando vivemos fortes emoções ou momentos estressantes.
"O estresse é compreendido pelo organismo como uma ameaça à vida. Para reagir, o organismo busca estocar energia e é por isso que acabamos recorrendo a alimentos mais energéticos, ou seja, mais calóricos", afirma Adriano Segal, diretor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade. Alimentos ricos em açúcar e gordura podem aumentar a quantidade de serotonina e endorfinas do cérebro, levando à sensação de prazer e bem-estar.
O problema é que essa sensação agradável fica na memória, e a tendência é repetir o 'ataque glutão' sempre que surge um momento de tristeza, mesmo que a ingestão das 'bombas calóricas' não sacie adequadamente a fome. Os alimentos ricos em açúcar promovem a liberação de insulina na corrente sanguínea mas, com a insulina alta, a pessoa sente ainda mais fome e vontade de consumir alimentos doces. E aí forma-se um círculo danoso à saúde, com riscos de doenças cardiovasculares, aumentos no nível de colesterol, obesidade, dentre outros.
Mas engana-se quem pensa que somente as emoções negativas impulsionam a ingestão de doces. Estados emocionais positivos também podem levar à compulsão. Um estudo de 2006, realizado por pesquisadores da Universidade do Texas (EUA), descobriu que o alimento pode ser usado para intensificar sentimentos positivos - portanto, o comer em demasia é um hábito que se reporta a vários estímulos.
"As pessoas, em geral, não têm a informação de que a emoção é uma corrente elétrica cerebral, que se forma no sistema límbico e, como qualquer corrente elétrica, pode seguir o trajeto certo ou o errado. Se seguir o trajeto correto, para o córtex cerebral, vai levar a soluções. Agora, se seguir o trajeto errado, para onde for vai causar problemas", afirma o neurologista e professor de psiquiatria da USP Sidney Chioro.
Para quem já está acostumado a comer por impulso e deseja emagrecer, a solução vai bem além das dietas. É necessário que se aprenda a lidar com as emoções, através de treinamentos e técnicas psicoterápicas, que ajudam a pessoa a identificar suas emoções e a canalizá-las corretamente. Somente através da dieta o problema não se resolve: a pessoa até perde peso, mas não permanecerá magra, pois sua emoção continuará direcionada para o lugar errado, a pessoa volta a comer, volta a engordar e segue o mesmo círculo vicioso.
Afinal, você tem fome de quê: de alimentos ou de sentimentos?
Deixe as emoções fora do seu prato.
Fonte: Viver Bem Uol, revista Corpo a Corpo