terça-feira, 11 de novembro de 2014

Pais sem Pressa

Agenda sempre cheia e correria não é privilégio só da vida adulta. Atualmente, são muitas as crianças que, além do currículo escolar, se desdobram em várias para dar conta de aulas disso, aulas daquilo e atividades extras. Um certo exagero que muitas vezes impede os pequenos de ter uma rotina equilibrada, com horários livres de compromissos, e com espaços para as brincadeiras típicas de cada fase.



Por essas e outras, nos Estados Unidos e na Europa, o movimento "slow parenting" ganha força. O termo pode ser traduzido como "pais sem pressa", que defende a criação dos filhos com menos pressão, em busca de uma infância mais tranquila.

Essa linha contemporânea de educação, que prega a desaceleração da rotina dos pais e dos filhos para que possam explorar tudo a seu tempo, já está chamando a atenção dos brasileiros. "Hoje, as crianças precisam ser as melhores na escola, no condomínio, na família. Este ritmo traz problemas emocionais e perdas significativas na qualidade de vida delas. Esse tipo de conduta tem ligação direta com ansiedade, desatenção, desmotivação e dificuldade em se relacionar", afirma a psicóloga infantil Graziela Freitas. Ao preencher os horários dos filhos com mil atividades, alguns pais, na melhor das intenções, acreditam estar preparando de forma adequada o futuro dos pequenos. Mas, muitas vezes, o comportamento tem efeito rebote.

Joyce Goldstein, integrante da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, entende que propostas como as do slow parenting podem resgatar a infância como um período de descobertas e aprendizados, com momentos de liberdade para escolher atividades, e  tempo livre para brincadeiras. Os pais deveriam escutar mais os desejos dos filhos, não sobrecarregando a rotina, tentando equilibrar as atividades diárias e o que é realmente importante pra eles. — Compreender-se a si, aos outros e ao mundo já é uma aprendizagem gigante a ser feita nesta chegada ao mundo. Não parece ter sentido os adultos acrescentarem mais demandas para as crianças — explica o especialista.



Alguns dos mandamentos do slow parenting:
* Ouvidos atentos: escutar é fundamental para uma relação de confiança.
* Miniexecutivo: crianças não precisam cumprir diversas atividades e sentir o peso de agendas sobrecarregadas.
* Menos, menos: deixe tempo para a criança brincar. A falta deste espaço, somado à alta carga de cobrança, gera ansiedade e sintomas físicos.
* Tédio faz bem: são nestes momentos que a mente se expande a livres pensamentos, desenvolvendo a criatividade e diminuindo a ansiedade.
* Ócio familiar: a família toda precisa entrar no clima slow. Deixar a agenda livre faz bem a todos. Crianças de até cinco anos devem aprender de forma livre, sem agendas estruturadas.
* Novos amigos: é importante deixar a criança se relacionar com outras crianças. O círculo social dos filhos precisa ser maior do que apenas o círculo familiar.
O pedagogo Paulo Fochi defende a desaceleração da infância, e destaca que não existe fórmula pronta para educar e nem padrão único de desenvolvimento. "Compreender-se a si, aos outros e ao mundo já é uma aprendizagem gigante a ser feita nesta chegada ao mundo. Não parece ter sentido os adultos acrescentarem mais demandas para as crianças."
 

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